sábado, 30 de julho de 2011

"Somos finos como papel. Existimos por acaso entre as porcentagens, temporariamente. E esta é a melhor e a pior parte, o fator temporal. E não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a si mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado. Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos."
Charles Bukowski
"Não, não quero mais gostar de ninguém porque dói. Não suporto mais a morte de ninguém que me é caro. Meu mundo é feito de pessoas que são minhas – e eu não posso perdê-las sem me perder."
Clarice Lispector
Ter ou não ter namorado.

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção.
A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.
Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.
Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 29 de julho de 2011

"De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns: não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário."

Clarice Lispector
(Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"Arrependimento é uma coisa engraçada. Você tenta fazer o melhor em sua vida para evitá-lo. Mas às vezes são as coisas mais difíceis da vida que nos ensinam mais e que nos fazem perguntar: se tivéssemos uma segunda chance, quantos de nós faríamos as coisas de um jeito diferente? Para alguns, o arrependimento é algo bom, que nos ajuda a deixar nossos medos para trás e seguir para o futuro. Para outros, é algo que nos permite reexplorar o passado. Na melhor das hipóteses, o arrependimento pode ser a causa de um recomeço. Onde qualquer coisa e tudo ainda são possíveis."
Men In Trees

quinta-feira, 7 de julho de 2011

"O amor tem a capacidade de fazer os pedaços despedaçados voltarem a ser inteiros"
Pe. Fábio de Melo

terça-feira, 5 de julho de 2011

"Sou meio que uma mistura de preto no branco, de ódio na doçura. Tentar me decifrar é o mesmo que tentar decifrar o vento." 
DarkWriterBr
“O grande pessimista colhe todas as notícias ruins do jornal e manda aos amigos cada manhã; acha que o ser humano não presta mesmo, o mundo é mero palco de guerras e corrupção. O excessivamente otimista acha que a realidade é a das telenovelas e dos sonhos adolescentes, das modas, das revistas, da praia, do clube. O sensato (não o sem graça, não o chato) sabe que o ser humano não é grande coisa, mas gosta dele; que a vida é luta, mas quer vivê-la bem; que existem _ além de injustiça, traição e sofrimento _ beleza e afetos e momentos de esplendor. Que se pode confiar sem ser a toda hora traído por quem se ama.” 
Lya Luft, in Perdas & Ganhos
'Ah, quer saber? A nossa vida a gente inventa. A realidade nada mais é do que um grande desejo inventado. Um sonho que se faz verdade, uma vontade que sai do papel e caminha. Assim... Feito vida. É uma responsabilidade enorme desejar, eu sei. Mas vida ao vivo é pra quem tem coragem. Coragem de sonhar. Cuidado em desejar. Porque é preciso fé, auto-conhecimento e um querer no infinitivo para que sonhos se realizem. Difícil? Pode ser. É um exercício diário que exige confiança e um amor incondicional por tudo o que somos e acreditamos. Uma aceitação suave dos próprios defeitos, um rir de si mesmo, um desaprender contínuo, um aprender sem fim sobre o que queremos da vida. Transformar sonho em verdade é para poucos. E para muitos. Para todos os que têm a sorte de desejar. Não importa se tudo parecer errado e o mundo virar a cara para você. (Qual era mesmo sua vontade?). Esqueça. Se esqueça. Hora de se perdoar. Tempo de se procurar. RENASÇA. Ninguém veio ao mundo para acertar, haja paciência pra gente perfeita! Eu sei pouca coisa da vida, mas uma frase eu sigo à risca: é preciso acreditar. E eu acredito! Acredito no que diz o silêncio na hora em que a mente cala. E meu silêncio - que não é mudo e também escreve - dita com voz de quem sorri (às vezes desafiante): confie em si mesma. Quebre a rigidez. Ouse. Perca o medo. Perdoe-se. Brinque. Viva com leveza e encante-se. Só assim você vai transformar vida em letra e letra em vida. Num reciclar eterno de poesias possíveis."
Obs.: Sábio o silêncio que habita o coração!!! Que eu consiga ser quem eu sou e bata palmas no final! Mesmo que eu escorregue em mim ee puxe a cortina antes do espetáculo acabar. Quem vai dizer que não era essa a melhor parte do show?
Fernanda Mello
[...] "Quanto mais eu me aproximo do que seria a minha volta, mais longe eu estou de querer voltar. Quanto mais eu me recupero do que doeu tanto, menos vontade eu tenho de causar dor em alguém. Esse desejo incontrolável de voltar é apenas a vida me dizendo para andar pra frente e não voltar nunca mais."
Tati Bernardi, in Eu nunca mais vou volta
"Há que ter alguma coragem. Há que ter algum sonho correndo nas veias e um grão e loucura faiscando na alma. Ou apenas desejo de viver a vida em vez de ser arrastado por ela como uma criança puxa atrás de si, na poeira, um brinquedo sem graça."
Lya Luft

sábado, 2 de julho de 2011

"[...] Ele nunca saberá como eu o amo; e não é por ele ser bonito, Nelly, mas por ser mais parecido comigo do que eu própria. Seja lá qual for a matéria de que as nossas almas são feitas, a minha e a dele são iguais, [...]. Os meus grandes desgostos foram os desgostos do Heathcliff, e eu acompanhei e senti cada um deles desde o início; é ele que me mantém viva. Se tudo o mais perecesse e ele ficasse, eu continuaria, mesmo assim, a existir; e, se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, o universo se tornaria para mim uma vastidão desconhecida a que eu não teria a sensação de pertencer. [...] Nelly, eu sou o Heathcliff. Ele está sempre, sempre, no meu pensamento. Não por prazer, tal como eu não sou um prazer para mim própria, mas como parte de mim mesma, como eu própria. [...]"
Emily Brontë, in O Morro dos Ventos Uivantes

sexta-feira, 1 de julho de 2011

"Vem de longe, vem no escuro, brota que nem mato que dispensa cuidado e cresce com a mais remota chuva. Vem de dentro e fundo e com urgência. Amor vem de amor. Que não cabe, mas assim mesmo a gente guarda. A gente empurra, dobra, faz força, deixa amassado num canto, no peito, no escuro, dentro, ou larga pegando sereno. Amor vem de amor. Vem do pedaço mais feio, do mais sem palavra, do triste, vem de mãos estendidas. É tecido desfeito pelo tempo, amarelecido pelo tempo, pelo cheiro da gaveta fechada, pelo riscado do sol na madeira. Amor vem de amor. Vem de coisa que arrebata, vira chão, terra, cisco, resto, rastro, coisa para sempre varrida. É delicadeza viva forte violenta. Que faz doer, partir, deixar caído. Amor vem de amor. E dói bonito."
Juliana Brina
"Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser..."
Álvaro de Campos & Fernando Pessoa
"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente."
Érico Veríssimo